sábado, 5 de junho de 2010

Livre Interpretação

Já diziam nossos pais ou professores de quarta série, “opinião cada um tem a sua, não existe um opinião certa ou errada. Se você acha a Joaninha bonita, muito possivelmente alguém nesta sala não a acha, o que prova o meu ponto”. A simplificação contida neste discurso, No entanto, está no simples fato de que, se Joaninha tivesse três olhos, dificilmente alguém no mundo a acharia atraente.

Por outro lado, se a mesma menina preencher com perfeição um grande número de características consideradas atraentes pela sociedade na qual ela está inserida, seria uma tarefa complicada imaginar qualquer pessoa que a achasse terrivelmente feia. Ou seja, certas opiniões não podem ser emitidas em determinado contexto, pelo simples fato de não fazerem sentido. O importante desta conclusão empírica reside na analogia à interpretação textual como um todo. Não falo de qualidade de texto, vejam bem, refiro-me exclusivamente ao que se pode retirar de determinada leitura.

Correndo o risco de ser repetitivo, apresentarei mais uma amostra do meu ponto. Ao ler um texto de 200 palavras das quais uma quantidade substancial delas é “mulher”, seria bastante surpreendente se um indivíduo, munido da razão, conseguisse arrancar uma gama de interpretações que abrangesse temáticas tais quais adoração à natureza e massificação da mulher. Indo além, se uníssemos à letra ritmo, melodia e forma de expressão populares, dificilmente conseguiríamos escapar da última leitura.

Em suma, tendo a acreditar que as interpretações possíveis dadas a um texto sejam cerceadas pelos elementos que ele oferece. Um russo, ao ouvir esta mesma música, seria incapaz de identificar o elemento que proporciona de forma determinante o caráter de massificação intrínseca à canção e, sem sombras de dúvida, seria apto a interpretá-la de forma bastante diferente do que um brasileiro.

Portanto, seguindo ainda esta ideia, uma expressão ou ação remete a um número finito – mesmo que muito, muito grande – de interpretações. Além disso, na maioria dos casos, esta quantidade de possibilidades se torna menor a cada novo elemento levado em consideração. O que nos leva a outra reflexão importante. Como delimitar cada um destes elementos?
Na realidade, a questão que acho mais relevante consiste na identificação de interpretações válidas, ou, melhor dizendo, genuínas, fruto real da análise dos elementos contidos em determinada expressão. Acredito que seja impossível a um indivíduo, ao se deparar com a música do exemplo anterior, provar a mim, através de lógica, que a mensagem nela contida possa ser também de valorização da mulher e não o seu oposto. Arriscaria dizer de antemão que esta pessoa incorreu em um erro lógico, seja pelo uso de sofismas e falácias, seja pelo fato dela não levar em conta todos os elementos oferecidos pela música.

Então, a professorinha do ensino fundamental estava certa em termos ao proferir defesas à liberdade de opinião. Cada indivíduo é realmente capaz de tirar conclusões diversas de um mesmo objeto, sendo estas muitas vezes conflitantes. No entanto, é incorreto acreditar na infinidade de interpretações do mesmo. Esta crença só pode ser sustentada por motivação artificial e lógica ilusória.

2 comentários:

Gigante da Montanha disse...

Eu acho que o San está certo. O texo acima tem uma falha grave ao delimitar o número de elementos que podem ser examinados ao se interpretar um texto. Esta escolha deriva da subjetividade de cada indivíduo, o que torna toda e qualquer interpretação válida, ainda que mais ou menos corroborada pelas ourtas pessoas.

gary disse...

um comentário leigo e desinibido?
eu realmente gostei. deu pra filosofar bastante, criei até uma teoria. já no primeiro parágrafo dá pra ver que vai ser uma viagem, e de fato foi.