terça-feira, 29 de novembro de 2011

Oriente


assim ficou meu objeto
concreto desafiando o céu
torto curvo, um prédio?
uma árvore
um salão ?
dane-se ingenuidade
a sinceridade
puristas...
ninguém jamais saberá sequer
interferir
inferir
um qualquer sig-ni-fi-ca-do
(antes fosse cedo...)

perplexos, esquecerão meu objeto


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

De Novo Rio


Quando tudo vai mal
Penso em fugir
Toco pra rodoviária
Já não me deixo iludir
Ser pra sempre o passageiro



Me chamam otimista
Eu sou fotógrafo
Buscar sempre
O melhor ponto de vista


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Frio

 (Daphné, Django Reinhardt - de alguma maneira ele me disso isso)

Escrever, Respirar
quando se tem
muito
ar.
Espiar pra dentro
de algum lugar
e espirrar

numa folha

de papel
branco.
Branco
De onde vem inspiração?
de Dentro da folha que suga minhas
mãos?

ou do sangue que pulsa

no

meu
















Pulmão.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pin'd'gent'

(ou O que não coube no poema, boto no pescoço)


dentre todas as outras
as jóias mais caras, escolhi esta
para fazer meu pingente:

não tem ouro nem marfim,
fita ou cetim,
o meu pingente é só e é isso que ele é:

de cada lágrima destilada,
cada noite no baixo gávea,
secretamente escondi

em meu peito cabeludo e duro
uma nesga, uma lasca
do que poderia ser, tivesse sido...

meu pingente é forte como sol e
frágil feito o amor

desfilo com ele à mostra, pendurado no pescoço
e é tão singelo o meu pingente

que faço que esqueço a dor que deveras sinto,
sabê-lo tão pequeno, tão fugaz,

tão...

um pingo de gente


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

música para secretária eletrônica


é , acho que eu não soube amar,
vai ver eu só não tive sorte...
é tão natural pra mim preferir a morte(?),
a voltar lá pro começo...

outra vez o fim da fila e eu já
tão a vontade...
mas a minha vontade mesmo era ficar
(lá no começo...)

vai ver eu só
não tive sorte

vai ver eu só

o meu endereço, continua o mesmo
todo o resto é que está fora do lugar;
outro dia
achei minhas chaves na cozinha,
já o coração, não consegui achar...

e é tão natural pra mim
sentir medo,
vai ver eu só
não fui tão forte...

é tão natural pra mim
preferir a sorte, eu que estou
só no começo...


I


rosto emoldurado
quadro tridimensional
uma nesga de realidade no seu queixo largo
você cisca cisca migalhas de amor
enquanto eu jogo pedrinhas
e você não vem


No banheiro

(Poesia pura)


Eu como saudade no café da manhã
ao leite, ou com alguma fruta;
o meu almoço, é minha fraqueza que me alimenta
e às vezes nem sei como é que eu agüento
de tanta fadiga...
o mocotó do osso vai todo, no dia-a-dia;
para o jantar uma boa taça de um bom vinho
regado a melancolia.
Agora, quando eu devolvo
tudo isso ao mundo,
meu amigo,

nem te conto...




Balanço


prá frente,
pra trás...
joelho dobrado,
agora esticado...
prá frente,
pra trás...
parece uma lei natural
mas não é.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Soneto Romântico

(para Ana Maria)


ai, o meu amor é tão clichê
e gruda que nem chiclete
pela primeira piriguete
que pinta no pedaço;

e eu nem cobro cachê
pra aparecer de otário
na revista ou na tevê
(ao lado de um papagaio...)

ai, meu coração virulento
expande franco desalento
no universo virtual

meu amor é tão clichê, ai,
tão band-aid
– gruda e dói pra tirar


domingo, 13 de novembro de 2011

Noturno nas entranhas da máquina


os ruídos da cidade noturna,
já não sei se são meus ou dela;
olho pela janela sabendo,
em vão:
se já não havia
                          eu, ela, imensidão


Estudando o ritmo


I
(se fosse uma letra de música)

quem me vê assim passando nem imagina
que passei a noite em claro, chorando.

engulo o orgulho, minto pra mim
misturo no feijão o que não consigo

confundo cachaça e amigo,
lágrima e violão.

mas se ela perguntar por mim
só diga que não:

não estou, não estive
nunca estarei.


II
(se fosse um Paulo Henriques Britto)

quem me vê assim passando
nem imagina que passei a noite
em claro, chorando.

engulo o orgulho minto
pra mim, misturo no feijão
o que não consigo...

confundo cachaça
e amigo, lágrima
e violão;

mas se ela perguntar
por mim,
só diga que não:

não estou
não estive
nunca estarei.


III
(fosse um Waly Salomão)

quem me vê assim passando
nem imagina que passei a noite em claro,
chorando.

engulo o orgulho minto pra mim,
misturo no feijão
o que não consigo

confundo cachaça e amigo, lágrima e violão

mas se ela perguntar por mim,
só diga que não:

não estou
não estive

nunca estarei


domingo, 6 de novembro de 2011

Compulsão


escrever com pulso firme
até que a convulsa folha
abrigue todo o corpo do poeta
que é verbo, ponto, e letra.
o maior cuidado, não!
o único,
é para não rasgá-lo
poetas sentem como tesoura
o efeito de um violão ou
de uma cachaça.

All of me

(Disse alguém)


você ainda garoto,
seu sorriso bobo,
vantagem da idade:
não temer quedas livres;

a cidade passa de taxi
e ela é sofrida ao amanhecer.
os tons de laranja botam-me
comovido como o diabo...

o pássaro do desejo
qual pombo e criança na areia
da praia, a onda do mar levou...

não saber dançar:
fato irremediável, ou só
dois pra cá dois pra lá?


poema-feto-morto

(para Paulo Henriques Britto)


sabe aquilo que você não disse?,
em um verso que não aconteceu,
sobre o amor que você nunca teve...
- pois é, não li.



Santiago, nunca fui:
se acatei foi pela ausência
de provas em contrário.

Santiago me disseram: aceitei
na medida do aceitável,
homem pragmático que sou.

Bem-te-vi, bem-te-vi...
e daí?
Ninguém responde.

Bem-te-vi, bem-te-vi,
me ensina um canto
que de tanto repetir virarará nome...


desconstruindo


é difícil juntar os cacos de quem que se foi,
inda mais quando tão variadas
são as formas possíveis do mosaico:

toda vez que tento, burros n’água...
luto com o vento?
(questão de hábito)

vai ver você sempre foi um mosaico
que se construía pelo bel-prazer
de alguma coisa;

vai ver continue eu
no associar as peças, acrescentar respostas e enigmas
aos que você deixou

vai ver tenho um milhão de pais!
ou mais (?)

vai ver...