domingo, 27 de março de 2011

de repente, talvez do alto
de baixo, simplesmente talvez
do nada:
veio o silêncio;
vem, paira
e pousa
sobre nossa conversa
- abro a boca
mas ele inda está lá
entre eu, você,
talvez dentro, nós
tenhamos já percebido
a fragilidade das palavras

nos beijamos
Sou homem de poucos versos
digo, roucos
- quero dizer, porcos!
perdão: curtos!...
mas sem dúvida um tanto brutos...

Fósforo

Meu fósforo interior
se apagou já faz um tempo;
e qual não é sua saudade do brilho
que hoje também idealizou...
Mas ele sente, na noite escura
aquela vontade dos velhos tempos
de brilhar, brilhar, pra fora e
pra dentro: essencialmente brilhar
- essenci’alma –
mas ao invés, e lhe reconheço o esforço
de inda não ter esmorecido
(dizem que não leva muito
para um fósforo se biodegradar),
ele ainda procura;
alguns dizem até que se pode ouvi-lo
desejando quem o faça em luz
na noite escura:

- Onde está você!, minha caixinha Fiat Lux ?..

Conversa

olha só, tava pra te dizer já tem um tempo
quando a gente conversa
você parece ficar sempre um passo atrás
de onde tão seus olhos, sua boca;
quando você fala
sabe, parece que fica contido
e eu vejo isso, sabia?,
vejo na sua maneira de dizer as coisas
no seu modo de falar, de me olhar sempre
armas em punho, pronto pra se defender
do quê
eu não sei...
poxa, não precisa se fingir de tímido
porque isso
eu não sou! mas
acabo sendo...

então, se você fica um passo atrás
e eu também, numa conversa
a gente fica tão distante!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Eu como saudade no café da manhã
ao leite, ou com alguma fruta;
o meu almoço, é minha fraqueza que me alimenta
e às vezes nem sei como é que eu agüento
de tanta fadiga...
o mocotó do osso vai todo, no dia-a-dia;
para o jantar uma boa taça de um bom vinho
regado a melancolia.
Agora, quando eu devolvo
tudo isso ao mundo,
meu amigo, nem te conto:
é pura poesia!

terça-feira, 15 de março de 2011

II

- no escuro, pouco importa se os temos abertos ou fechados,
os olhos, você me dizia
como se eu nem imaginasse o seu medo e então
apertava minha mão forte
e eu sequer imaginava ser essa
mão tão veiuda e magra a tua única certeza...
mas tudo certo, pois
se tampouco você tinha idéia que
os teus olhos
pequenos cintilantes e fogo fátuo
também eram a minha
(certeza única)
- isso porque, no escuro, sequer os via...

segunda-feira, 14 de março de 2011

I

se eu te pego pela mão, e digo
- vem comigo!
e se não falasse mais nada:
sem dizer se é por um beijo
ou por um tapa, que a sua mão eu seguro;
se eu digo isso e mais nada,
e me calo, você me olha
bem no fundo do fim dos meus olhos
(onde dizem que fica a alma);
eu conheço essa cara,
mas,
agora fala



você viria?

terça-feira, 1 de março de 2011

não posso tentar descrever ou escrever

sobre algo

isso

não é poesia


poesia: de onde nasce?

de onde surge

tão cegos nos faz?

pois

ninguém a vê chegando

(sorrateira ela talvez

apenas se aproxime

quando tudo é surdo)

a poesia

vem em silêncio

se aproxima sem anúncio;

desanunciadamente

se revela e

quando o olho a alcança enfim

já ela está à frente

está já em performance

está num transe

seduz como se

sempre o fizesse

fosse sua essência


e como estivéssemos

numa grave contemplação

ao mármore mais antigo

esculpido do mais íntimo

ela se dissolve

desaparece

sem anúncio

e deixa os olhos

a mirar o vazio