domingo, 26 de setembro de 2010

contra-tempo:


o tempo a vida
não hoje não hoje eu vou
sentar quieto olhar nada
falar com ninguém:
os olhos os ouvidos a fumaça na cara
a minha disposição
toda concen-
trada
mais perto do

chão

sábado, 25 de setembro de 2010

Brincando de Ser Humano

Nasci
como ser (?)
Serei até morrer
simples
ser.

O que dissera o ser
quando nasceu? Ser
humano?
Esse ser humano tão sério
tão cego

o que vê?
Será o ser ou será o ego?

Me entrego na condição de
ser,
sereno. Sereia, Será?
Serei a sereia,
o que será de mim?
Nascer
ser
morrer.
Sem alegria
Sem fim?
Será poesia?

Serei poesia!
(Não posso ser poesia
se sou humano,
ser humano

E o mesmo fez questão
de gritar a mentira do século:
''Sei ser!''
Mais um estúpido ser
-retruquei-lhe)

Ainda indago aos sábios:
o que será de mim?

Simples ser humano
não pode ser meu fim
Depois de tantos anos
sendo
e
morrendo,
vivendo
e
renascendo, a
nostalgia de simplesmente ser
torna a não mais entender
a razão de uma vida
para se viver.
E morrer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Imortalidade

Daqui do meu quarto
andar,
no meu quarto de sonhos
ainda ouço cochichos

eles pulam do mercadinho
São José
até minha janela
só para não me deixar dormir.
São os boêmios das altas horas

assim como outrora
estava naquelas cadeiras
sentado
o maestro soberano
Antônio brasileiro

No meu quarto em Laranjeiras
ouço a voz do maestro
pular não sei de onde para
também não me deixar dormir

as vozes cessam
os bêbados se calam
a música continua

domingo, 12 de setembro de 2010

Argumentar é tarefa árdua,
a conformidade com a tabela de sentidos...
O poetar é que me apetece, o poetar metafísico
(ou será metafórico?)
que de pouco esforço, um tanto de lágrima,
um quê de riso,
se dá por satisfeito.

Isso quando resolve que vai levantar da cama...

O miojo dos sentimentos,
muito, mas muito menos do que 3 minutos! (embora eu,
particularmente,
nunca o tenha visto antes do meio-dia...)
Uma rede na varanda é lugar da poesia,
que de resto
é mera babaquice ou resquício
de melancolia..

sábado, 11 de setembro de 2010

Amigo de um amigo meu

E a página com letras perdidas e magoadas era tudo o que ele tinha. No final era tudo o que acreditava. Enquanto ia borrando seus pensamentos angustiados pelas linhas daquele papel, imaginava: Nada melhor que algumas metáforas para dar ênfase e, principalmente, colorir palavras frias e sem sentido. Mas estava cansado de todos aqueles frios e quentes para palavras. Buscava algo totalmente novo e fora de alcance. Impossível. Era uma pena não conehcer essa palavra. Era uma pena se limitar por não conhecê-la, se fechar no mundo de total liberdade. Acabaria por se perder. Se perdeu no mundo que ninguém conhecia, mas já era de se esperar. Continuava escrevendo e quanto mais escrevia, mais se sujava e mais sujava aquela folha antes branca e limpa. Sem graça. Talvez agora estivesse com algum colorido, ou quem sabe seria só sujeira mesmo. Começou-se escrevendo sobre arte e terminou gritando por amor. Tá ótimo assim. Que seja sempre assim. Era uma das liberdades que a falta do conhecimento da palavra impossível trazia. Continuava escrevendo e amando. Amava tudo. Era blues, era música, era o lápis sem personalidade e dignidade, que se deixava deslizar naquele papel agora sujo, sem em nenhum momento contrariar aquela mão densa, que soletrava mais que pensava. Aquele lápis carregava uma enorme responsabilidade. Responsabilidade de manter a sanidade daquele menino.
E por fim, quando ele termina de maltratar o papel, resolve voar e voa, voa... até cair e se sentir obrigado a maltratar outro pedaço de papel.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Era logo ali, na janela próxima
que morava a senhora

De minha janela não via sequer beleza
via idade, marido, cama e mesa
um espesso vidro que a separava
de todo mundo em seu quarto

Como todo dia que via lá ela
era simples, bonito
uma senhora na janela que nada fazia
só olhava e olhava, até que convocada
para o jantar por na mesa
na mesa vazia

As rugas já apareciam
os olhos tristes, quase mortos
já não mais entendiam
porque naquele corpo ainda habitavam

Mas certeza tinha que viva ela estava
já que todo dia da janela
me fitava

Espiava toda vez que até a janela ia
olhar definhado e perdido
que mais parecia um gemido
de um corpo que há tempo não vivia

Certo dia olhei para janelarotina
e nenhum sinal de senhora

Aquela hora do dia
se ali não estava
onde mais estaria?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Beijo Sujo

A cidade imunda
inunda
Os carros roubados
circulam
O beijo roubado
furta
a alma de algum apaixonado
imundo,
na cidade afogada

terça-feira, 7 de setembro de 2010

conversa a toa

- Quer dizer, então, que os insetos não
sentem afeto?
- Você poderia pisá-lo agorinha mesmo,
esmagar com a sola
do seu sapato
aquela formiga ou aquele percevejo.
- E eles, ainda assim, não sentiriam nada?
- Isso mesmo.
- Mas e se eu arranco, tadinho,
com a maior perícia,
antena por antena
e as suas patinhas...
- Não sente nadinha.
- Como são insensíveis esses insetos...