sábado, 4 de dezembro de 2010

meu estado primeiro é a tristeza

o resto

é distração,

um sorriso bem dado,

um olhar trocado


(os sensíveis que choram,

desesperam

pelo desengano)


deve ser por isso que rio alto,

canto

pra colorir de outros tons o silêncio

projeto de Nação

túm, tá tá tá, túm!


túm, tá tá –, túm:

túm-túm!

que som é esse que vem
debaixo da terra?

vai me dizer que você não ouve?
vai me dizer que é o seu coração...

submeter o próximo como a si mesmo,
não é?
não é mesmo?

mas que belo projeto de paixão

epistemologia louca, meu filho, à flor da pele, vai
me diz que você não sente
que você não ouve


por quê ainda não tirou a roupa?!

bem mais de 1 500 anos
sem nós, vai
me fala
ou melhor, não fala nada

por que ainda você não tirou a roupa!?


deixa a minha boca
e a sua boca
se entenderem à parte essas caretices todas.

domingo, 28 de novembro de 2010

eis-me aqui;

estou nu,
estou com as nádegas para fora.

não há que me escute
me leia;

brilho puro
(como a necessidade do dia).




brilho de dia para escurecer à noite

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

colagens

ainá, o mundo é grande
você nem imagina...

por detrás da montanha
o vento assobia uma melodia triste, de chuva;
não é mau presságio,
calma,

a rotação universal ainda não perdeu o ritmo...

encosta o teu coração no surdo da terra
para ouvir pulsar
essa imensidão brasileira
que os rios da América hão de lavar

e se puder me leva
esse gostinho de proibido, de morar bem longe, pra nunca mais...

e aí depois voltar à quentura
o abafado da gente minha e do meu lugar
pisar de novo a estrada de terra, e olhar pro céu, e ter enfim motivo, ainá
pra chorar.

mas o choro, não é mau presságio não
te juro,

é uma ponte que segura dois risos

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

di repente

di repente ficou chato o mundo
fiquei mudo
vou colocar meus óculos escuros

(ah, eu sou tão blazé, eu sou tão blazé...)

nem imagina
o que por detrás
dessas vistas vermelhas
se me assemelha:

uma persiana, uma gôndola
em Veneza uma noite escura e fria

eu te ofereceria um casaco, talvez
tivéssemos uma garrafa de vinho

e acho que a lua nova não poderia ter mais motivos para sorrir.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Não escreva poemas de amor.
talvez,
o amor não mereça um
poema. um verso de amor
pode acabar morto,
como um guardanapo
marcado de batom

no lixo,
entre os negativos velhos
os controles sem pilha,
eis onde pode acabar
o meu poema de amor

Não escreva, talvez
poemas de amor
vai que depois ela não é poema
e você já escreveu
ou ainda
vai que o poema é bom


mas


como calar a poesia
vendo-a dormir, as palpebras
tremulantes. A respiração leve
que em seu calmo ir e vir, lembra
uma cadeira de balanço. uma
canção de ninar.

como calar a vontade
se, com os olhos bem atentos,
a companhia vira paisagem
e o calmo ir e vir -
do corpo ao ar -
é como a brisa de um parque

todos os latidos
cacarejos, assobios,
a sola do sapato dos
corredores,
a bicicleta com uma rodinha!


cotovias, Flamboyants, até
a tangerina do pic-nic.
O alfabeto da poesia
inclui todos, menos o amor

então eis o que é
talvez não seja certo
talvez
não seja arte. mas
é certo que escrevo
não porque a amo
escrevo porque
o meu amor é um parque



por Picanha Aguillar

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tormento Contemporâneo

A multidão cria
um caos de sons e movimentos
que ao longe
é feito uma só forma
composta
pelas mil complexidades
de um só homem

Grita o mundo
por mil gargantas
umas milhões de palavras
com trilhões de ideologias
um turbilhão de emoções
enquanto
as árvores continuam a ser
árvores
-também em sua
devida complexidade-
e o humano a angústia
ou acomodação

A nação se divide
em homens de bem
porém aqui também somos
homens de mal.
Homens demais.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Assim,    de repende
nasce a frase
a palavra
a mentira a verdade

doces ou amargas, são apenas
palavras
ocas
se não ditas
por bocas certas ou
escritas por mãos loucas

descrevem uma idéia
um plano
escrevem sobre o dia
um ano

não passam de loucas
as palavras que condensam
em um instante
a fragilidade do mundo
que por tão complexo
não me deixa condensar em palavras
a fragilidade do instante

Incessante minha briga
pelo significado do mundo
ou da palavra
ou do instante
que morre ao início
e se perde no cosmo
feito um vício
por algo que antes
nunca
aconteceu

Dentro da vida o
instante não tem
relevância

Universo
Planeta
Estrela
Cometa
Homem
amor.
Flor
Pétala
Cor
Cheiro

Mera questão quantitativa.

domingo, 26 de setembro de 2010

contra-tempo:


o tempo a vida
não hoje não hoje eu vou
sentar quieto olhar nada
falar com ninguém:
os olhos os ouvidos a fumaça na cara
a minha disposição
toda concen-
trada
mais perto do

chão

sábado, 25 de setembro de 2010

Brincando de Ser Humano

Nasci
como ser (?)
Serei até morrer
simples
ser.

O que dissera o ser
quando nasceu? Ser
humano?
Esse ser humano tão sério
tão cego

o que vê?
Será o ser ou será o ego?

Me entrego na condição de
ser,
sereno. Sereia, Será?
Serei a sereia,
o que será de mim?
Nascer
ser
morrer.
Sem alegria
Sem fim?
Será poesia?

Serei poesia!
(Não posso ser poesia
se sou humano,
ser humano

E o mesmo fez questão
de gritar a mentira do século:
''Sei ser!''
Mais um estúpido ser
-retruquei-lhe)

Ainda indago aos sábios:
o que será de mim?

Simples ser humano
não pode ser meu fim
Depois de tantos anos
sendo
e
morrendo,
vivendo
e
renascendo, a
nostalgia de simplesmente ser
torna a não mais entender
a razão de uma vida
para se viver.
E morrer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Imortalidade

Daqui do meu quarto
andar,
no meu quarto de sonhos
ainda ouço cochichos

eles pulam do mercadinho
São José
até minha janela
só para não me deixar dormir.
São os boêmios das altas horas

assim como outrora
estava naquelas cadeiras
sentado
o maestro soberano
Antônio brasileiro

No meu quarto em Laranjeiras
ouço a voz do maestro
pular não sei de onde para
também não me deixar dormir

as vozes cessam
os bêbados se calam
a música continua

domingo, 12 de setembro de 2010

Argumentar é tarefa árdua,
a conformidade com a tabela de sentidos...
O poetar é que me apetece, o poetar metafísico
(ou será metafórico?)
que de pouco esforço, um tanto de lágrima,
um quê de riso,
se dá por satisfeito.

Isso quando resolve que vai levantar da cama...

O miojo dos sentimentos,
muito, mas muito menos do que 3 minutos! (embora eu,
particularmente,
nunca o tenha visto antes do meio-dia...)
Uma rede na varanda é lugar da poesia,
que de resto
é mera babaquice ou resquício
de melancolia..

sábado, 11 de setembro de 2010

Amigo de um amigo meu

E a página com letras perdidas e magoadas era tudo o que ele tinha. No final era tudo o que acreditava. Enquanto ia borrando seus pensamentos angustiados pelas linhas daquele papel, imaginava: Nada melhor que algumas metáforas para dar ênfase e, principalmente, colorir palavras frias e sem sentido. Mas estava cansado de todos aqueles frios e quentes para palavras. Buscava algo totalmente novo e fora de alcance. Impossível. Era uma pena não conehcer essa palavra. Era uma pena se limitar por não conhecê-la, se fechar no mundo de total liberdade. Acabaria por se perder. Se perdeu no mundo que ninguém conhecia, mas já era de se esperar. Continuava escrevendo e quanto mais escrevia, mais se sujava e mais sujava aquela folha antes branca e limpa. Sem graça. Talvez agora estivesse com algum colorido, ou quem sabe seria só sujeira mesmo. Começou-se escrevendo sobre arte e terminou gritando por amor. Tá ótimo assim. Que seja sempre assim. Era uma das liberdades que a falta do conhecimento da palavra impossível trazia. Continuava escrevendo e amando. Amava tudo. Era blues, era música, era o lápis sem personalidade e dignidade, que se deixava deslizar naquele papel agora sujo, sem em nenhum momento contrariar aquela mão densa, que soletrava mais que pensava. Aquele lápis carregava uma enorme responsabilidade. Responsabilidade de manter a sanidade daquele menino.
E por fim, quando ele termina de maltratar o papel, resolve voar e voa, voa... até cair e se sentir obrigado a maltratar outro pedaço de papel.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Era logo ali, na janela próxima
que morava a senhora

De minha janela não via sequer beleza
via idade, marido, cama e mesa
um espesso vidro que a separava
de todo mundo em seu quarto

Como todo dia que via lá ela
era simples, bonito
uma senhora na janela que nada fazia
só olhava e olhava, até que convocada
para o jantar por na mesa
na mesa vazia

As rugas já apareciam
os olhos tristes, quase mortos
já não mais entendiam
porque naquele corpo ainda habitavam

Mas certeza tinha que viva ela estava
já que todo dia da janela
me fitava

Espiava toda vez que até a janela ia
olhar definhado e perdido
que mais parecia um gemido
de um corpo que há tempo não vivia

Certo dia olhei para janelarotina
e nenhum sinal de senhora

Aquela hora do dia
se ali não estava
onde mais estaria?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Beijo Sujo

A cidade imunda
inunda
Os carros roubados
circulam
O beijo roubado
furta
a alma de algum apaixonado
imundo,
na cidade afogada

terça-feira, 7 de setembro de 2010

conversa a toa

- Quer dizer, então, que os insetos não
sentem afeto?
- Você poderia pisá-lo agorinha mesmo,
esmagar com a sola
do seu sapato
aquela formiga ou aquele percevejo.
- E eles, ainda assim, não sentiriam nada?
- Isso mesmo.
- Mas e se eu arranco, tadinho,
com a maior perícia,
antena por antena
e as suas patinhas...
- Não sente nadinha.
- Como são insensíveis esses insetos...






sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Elucidando uma viagen

pedras são como navios,
no pasto;
escuta, pois, o que te digo, se o doce
do céu não te vier em socorro
não!,
não grita...
fala baixinho... mentira! não fala nada;
encosto o ouvido na pedra
qual baleia
e ela
te dirá, pois que eu
na condição de simples poeta,
artesão da palavra,
venho só trazer a mensagem que é dela
minha enorme baleia
(que me engoliu um dia
sob o céu de Aldeia Velha);
desta viagem não voltei;
não voltarei.
não volto.




segunda-feira, 2 de agosto de 2010



Se os homens já são egocentrados,
céus, imagine as girafas!, do topo
de seus pescoços, galanteando
com os olhos toda a savana;
se já nós (um quase nada distantes
do chão), imagine as girafas! tão
distantes da terra,
espionando por sobre suas pernocas amarelas
o nosso caminhar
dia para um lado, dia para o outro
dia sim, e também no próximo...
– Oh, elegantes girafas, daí
de cima não vistes, por um acaso,
algum caminho que possas
me indicar?
Mas, as girafas
são pescoçudas demais para ouvir qualquer chamado.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Futucando

Poema postado originalmente em http://www.sonhosfeitosdecrepom.blogspot.com/, de Luisa Iachan

"Rasguei meu rosto
com uma força grande assim
para encontrar dentro de mim
a mulher que sofre de desgosto
e se esconde
procurando um homem bom
-não sei onde-
mas só vai achar
se não estiver com
o rosto todo rasgado
talvez eu esteja no caminho errado."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

..

Ando meio pé
meio cabelo
não sei direito
meio mãos
meio face às vezes
(rosto)
é fácil...
sou muito coração
pra pouco peito
o que é triste às vezes
ando meio triste
meio vazio

meio cheio

terça-feira, 13 de julho de 2010

Como se houvesse realmente

algo entre nossas faces tão juntas,

em nossos olhos tão admirados

(um véu que aflorasse ao toque?)


Como se, pele com pele,

pernas com pernas,

peito com peito,

houvesse mesmo qualquer evidência

de algo além de dois seres

dois seres em contemplação

tenra

profunda


Como se houvesse mesmo

entre as peles rentes,

roçantes,

qualquer indício de uma metafísica amorosa,

que explicasse a dissipação de todo o mundo

quando tudo desemboca num só ser...


Como se duas vidas conseguissem realmente se aproximar

ainda mais do que permite essa existência,

além desse estreito vão entre dois corpos amorosos

que com tanta sede,

tanto desejo,

tanta vontade,

tenta ser preenchido

quinta-feira, 8 de julho de 2010

caramujo

Uma antena pra fora, é para espiar.
duas já é
dar a cara a tapa;
e assim, com vagar, com receio
eu percorro
muradas, portarias, bares e canteiros
procurando em tudo e todos
a companhia que nunca tive cá dentro em minha concha.
se a fluidez do corpo
porventura assusta, o pobre, o frágil
caramujo
se a lucidez de todos
lhe parece muda, surda
e o assombro o leva tão depressa à concha,
pergunto:
- de que te escondes, caramujo
se a tua concha, em verdade
é o mundo
e si mesmo?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

vá pro inferno

poesia é a coisa mais anti-poética que eu já conheci.
qual o tolo decidiu que poderia estancar
como quer que fosse esse
meu peito fraco e frouxo
que é peito de homem?

(ouvi dizer que na Síria
há uns vinte e tantos séculos
houve um poeta)

eu não. não sou poeta, que é que queira dizer
esta interessantíssima máscara;
chamam-me assim, desconfio, e apenas
tão somente porque sou fraco;

me soa melhor poeta (confesso)
que fraco,
que desiludido,
que desesperado por qualquer sentido:
me cai melhor poeta
que aquele que fica entre o tudo e o nada,
flutuando inerte
o insofismável vazio que por ventura
se convencionou verso.

meço palavras, piso leve. uma piscadela para cada poema.
minha impolítica poética:
não sei se choro minha mágoa,
ou se conquisto a menininha que nem sei...

(na dúvida
rio,
choro,
um chopp,
bastante
eu converso)

e quando o medo passa,
(ou pelo menos
finge que)
só aí, e só quando já quase não vale a pena dormir
de tão tarde!
de tão cedo,
eu me deito

amanha tenho dia cheio.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Solitude

A minha última lágrima
ninguém verá;
eu tranco a porta
para que ninguém saiba
para que ninguém sinta
que em meu peito
sabidamente solitário
publicamente inevitavelmente
solitário
um outro homem
dessa vez menino
ainda sonha em cobrir toda a rua com seu giz de cera
(independente dos carros e das nuvens)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Por um saíra-de-sete-cores

se um passarinho entra pela sua janela
vôo errante, agitado
em expressão multicolorida
olhar tão curioso, inquieto;
apesar do receio de
envolvê-lo na palma,
em socorro
não pegues pela cauda
- mesmo sutil toque
as penas soltas mostram
a fragilidade da criaturinha;
e a pena, frágil, é a mesma
que seu pio, tão miudamente profundo,
faz sentir,
e ressoa numa lágrima
tão bruta

terça-feira, 22 de junho de 2010

Um verso à janela
que calasse na madrugada o silêncio mais fundo;
uma voz pra o meu violão
bailasse nos dedos meus, nas cordas bambas da viola
no carpete mesmo
(se tirasse um livro
de poesia da estante:
mas não me atrevo sonhar tanto).
Fico esperando
à beira da janela.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

mulher

I. 7x 'mulher' x2

primeiro se diz 'mulher' uma vez, depois 3 pares 'mulher mulher', e a voz vai diminuindo, acalmando
como os passos de uma dança: inicialmente apruma, vai e vem, vai e vem, vai e vem. e repete tudo.

II. 'a mulher, é a mulher' x5

1. sem a vírgula: 'a mulher é a mulher' que nos lembra o deus da bíblia respondendo quem ele é: 'eu sou aquele que é': nada de metadiscurso: o conceito de mulher de que será tratado aqui não aceita que se fale diretamente sobre ele
como vimos na repetição anterior, 'mulher' se trata de uma palavra coreográfica, quase gestual

2. mas podemos ler com a vírgula 'a mulher, é a mulher' como alguém apontando um objeto com o indicador, embasbacado, sem poder dizer nada, como uma criança diante de um objeto novo aponta e repete seu nome, em sua tentativa de assimilá-lo: 'o X, é o X'.
é infantil: então temos um primeiro momento em que 'mulher' foi revelado como gesto, e agora neste segundo é tanto uma palavra fora da sintaxe, inadjetivável, insubmissa a quaisquer lógicas gramaticais; como também, mais ainda: surge como que na boca de uma criança aprendendo a falar 'mulher': 'mulher', aqui, se refere a algo de outra língua: esta música trata do aprendizado de uma nova palavra, estrangeira, nova; o nome de algo específico não-generalizável.

3. note que este par de 'mulher' é repetido cinco vezes, totalizando dez 'mulher'. ver adiante.

III. 'melhor que uma mulher
só dez mulher'
x2

1. nota-se que o plural de mulher não é mulheres, é mulher: figura singular (mas isto já nos estava claro)

2. ora dez 'mulher' são melhores que uma, não bastam duas ou três. abordemos isto mais a fundo:
- seguindo a interpretação de que é uma dança: obviamente executar um passo pela metade é pior do que não executá-lo. e assim são necessários dez gestos 'mulher' (imagine, toda vez que ele fala mulher, conduzindo a dama, num tango, numa valsa; dança de salão) para realizar algo melhor do que simples permanecer na posição inicial (que se afirma no gesto primitivo 'mulher' que situou o casal de dançarinos)
- o que incomoda nesta linha de raciocínio é que a música se inicia com dois passos compostos por sete mulher; quando logo a seguir há a repetição de cinco pares de dois mulher. mas se a estrofe logo a seguir (esta estrofe III) está, justamente, afirmando que só dez mulher é melhor que uma mulher, então temos que a música opõe sua abertura à sua segunda estrofe, sendo a segunda melhor.

IV. 'melhor que dez mulher
só mil mulher'
x2

então o passo de dez mulher só será superado por um passo de mil mulher - mas isso é uma impossibilidade! talvez o 'mil' seja utilizado como em 'mil e uma noites' simplesmente como grandeza inalcançável: a beleza do passo de dez é completa e (humanamente) insuperável.

V. 'Uma mulher, duas mulher, Três mulher, quatro mulher...
Cinco mulher, seis mulher, Sete mulher oito mulher nove mulher, dez mulher!'


e aqui a execução da obra máxima já designada, execução didática, passo a passo.

recapitulemos: inicia com dois passos de 7, a seguir um passo de 10, então afirma a superioridade do dez, afirma que o dez é insuperável, e explicita a formação do dez, tintin por tintin. é, claramente uma aula sobre a utilização deste vocábulo; mas agora por que a escolha desta palavra 'mulher'? arrisco uma especulação muito própria e improvisada, passível de críticas e elaborações.
de uma forma contra-intuitiva, a música reinventa a possibilidade de falar de uma mulher: esta aula afirma que a mulher (sempre no singular, pois só há uma mulher) requer um tratamento próprio: ou bem distanciado, limitado ao simples contato cordial do casal; ou bem deferência completa, executando toda a dança de dez passos (poderíamos procurar a simbologia deste número). um tratamento intermediário, dito superficial, é recusado: e daí temos que esta música é romântica, recusando a idéia de que é possível relacionar-se pela metade, sem ir até o fim nos passos iniciados. o amor deve ser uma entrega completa ou nada. mas este amor é efêmero, chama, dura apenas o tempo de uma dança; mas há ainda o ideal, a dança de mil passos, infinita: dançar a vida inteira.

VI. 'salve a mulher brasileira!'
'brasileira': surge um adjetivo para mulher, o que lhe foi negado ao longo de toda a música.
ou seja, no brasil, a mulher não é tomada como 'mulher' a palavra-gesto singular inventada aqui, mas é tratada como simples mulher, de plural mulheres. 'salve': um protesto.

recursos não utilizados:
a. note que não podemos afirmar que 'mil mulher' é melhor que 'uma mulher' diretamente: é necessário executar a passagem pela fórmula 'dez mulher'
aos versos III e IV poderíamos notar também: a escala de um para dez, e de dez para mil, aliada à recusa de todas as combinações intermediárias, pode ser vista como uma política demográfica: uma mulher = o indivíduo, mil mulher = a sociedade ampla, sendo que em um povoado com mais de mil habitantes já existe certo anonimato. a organização em dez mulher, intermediária, que executa essa passagem entre indivíduo e sociedade: uma forma de família, de comuna, de associação educativa (uma turma escolar?)
b. em III nota-se que a frase inicia com 'melhor' e termina em 'mulher': oposição?
c. a mulher é terceira pessoa, fala-se dela e não para ela
d. mulher poderia ser lido como sinônimo de esposa
Eu fechei os olhos e você era um urso polar.
boiando num pedaço de gelo
toda branca
e com a patinha tentava alcançar alguma coisa na água
(talvez uma sardinha?
que obviamente já tinha ido embora)
você só boiava, só
boiava
eu ameaçava uma emoção
abri os olhos.






Poema nevado

sábado, 5 de junho de 2010

Interpretação livre


"No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Pra ser sincero, esse texto se dirige a um único leitor: eu mesmo. E se o que o motivou foram inúmeras e infindáveis discussões com amigos, no momento quero que solenemente se explodam. Digo isto como precaução; a quem, por acaso, não vier a interessar este devaneio egocêntrico e egoísta, fica o recado.

Eu comecei por me perguntar o que é uma interpretação. É dizer como me parece algo? É dizer o que eu vejo, é transformar em linguagem? Numa outra linguagem? Porque por exemplo, encontrei isto na Wikipedia, no verbete “Mistério do planeta”:

“Interpretação lírica

(...)"O tríplice mistério do stop" corresponde às três fases da vida do ser humano, ao nascer, crescer e morrer. No verso seguinte, "que eu passo por e sendo ele no que fica em cada um", reforça a teoria de que todos os seres humanos passam por esta fase. O 'stop' seria o fim da vida.(...)

É uma música linda, eu acho, mas a música é isso? Quereria dizer que a música pretende algo, ou estou errado? A música é o que ela é, ou o que ela quer dizer?

Foi nesse momento o estalo. Importa o que a música é? Ou não, porque ela é ‘para alguém’. Confuso pra cacete? De outra forma: Joaninha é bonita, ou, Joaninha é bonita segundo alguém?

Beleza?

Interpretar.

Interpretar é compreender, apreender: capaz... Compreender é transformar em algo que me diz respeito, que eu possa ‘percorrer’ depois, que eu possa retornar àquilo a partir de.

E de uma combinação aleatória de palavras? De aproximações tão distantes quanto possíveis; e de distanciamentos tão próximos? Refiro-me à poesia.

“A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

(...)

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo! (...)”

Indo mais longe ainda, me digam, como explicar as lágrimas que trazem à tona um poema sobre um moço tão distante no tempo quanto no espaço, e que eu mesmo nem cheguei a conhecer? “ A Mario de Andrade ausente”:

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.


Sei bem que ela virá (pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguem perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você,
Profundamente.


Mas agora não sinto a sua falta.


É sempre assim quando o ausente partiu sem se despedir:
(Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se.
Direi: faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.


Imaginarei: está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se.
Para outra vida?
A vida é uma só. A sua vida continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora sua falta.”

Essa coisa que não sei dar nome, estará mesmo no poema? Creio que não. Se é em mim que ela reverbera, se são minhas as lágrimas, sou puro eu este algo. Ou não?

Relendo à luz de algum tempo decorrido, me parece tão simples quanto infantil. Limitar interpretações é limitar as pessoas. Os homens criam seus significados, tantos quanto imagináveis, e vem criando, e creio, jamais deixarão de fazê-lo. Antes era a bíblia, ou a torá, um poema, que importa.

Interpretações somos nós, em outras palavras.

Livre Interpretação

Já diziam nossos pais ou professores de quarta série, “opinião cada um tem a sua, não existe um opinião certa ou errada. Se você acha a Joaninha bonita, muito possivelmente alguém nesta sala não a acha, o que prova o meu ponto”. A simplificação contida neste discurso, No entanto, está no simples fato de que, se Joaninha tivesse três olhos, dificilmente alguém no mundo a acharia atraente.

Por outro lado, se a mesma menina preencher com perfeição um grande número de características consideradas atraentes pela sociedade na qual ela está inserida, seria uma tarefa complicada imaginar qualquer pessoa que a achasse terrivelmente feia. Ou seja, certas opiniões não podem ser emitidas em determinado contexto, pelo simples fato de não fazerem sentido. O importante desta conclusão empírica reside na analogia à interpretação textual como um todo. Não falo de qualidade de texto, vejam bem, refiro-me exclusivamente ao que se pode retirar de determinada leitura.

Correndo o risco de ser repetitivo, apresentarei mais uma amostra do meu ponto. Ao ler um texto de 200 palavras das quais uma quantidade substancial delas é “mulher”, seria bastante surpreendente se um indivíduo, munido da razão, conseguisse arrancar uma gama de interpretações que abrangesse temáticas tais quais adoração à natureza e massificação da mulher. Indo além, se uníssemos à letra ritmo, melodia e forma de expressão populares, dificilmente conseguiríamos escapar da última leitura.

Em suma, tendo a acreditar que as interpretações possíveis dadas a um texto sejam cerceadas pelos elementos que ele oferece. Um russo, ao ouvir esta mesma música, seria incapaz de identificar o elemento que proporciona de forma determinante o caráter de massificação intrínseca à canção e, sem sombras de dúvida, seria apto a interpretá-la de forma bastante diferente do que um brasileiro.

Portanto, seguindo ainda esta ideia, uma expressão ou ação remete a um número finito – mesmo que muito, muito grande – de interpretações. Além disso, na maioria dos casos, esta quantidade de possibilidades se torna menor a cada novo elemento levado em consideração. O que nos leva a outra reflexão importante. Como delimitar cada um destes elementos?
Na realidade, a questão que acho mais relevante consiste na identificação de interpretações válidas, ou, melhor dizendo, genuínas, fruto real da análise dos elementos contidos em determinada expressão. Acredito que seja impossível a um indivíduo, ao se deparar com a música do exemplo anterior, provar a mim, através de lógica, que a mensagem nela contida possa ser também de valorização da mulher e não o seu oposto. Arriscaria dizer de antemão que esta pessoa incorreu em um erro lógico, seja pelo uso de sofismas e falácias, seja pelo fato dela não levar em conta todos os elementos oferecidos pela música.

Então, a professorinha do ensino fundamental estava certa em termos ao proferir defesas à liberdade de opinião. Cada indivíduo é realmente capaz de tirar conclusões diversas de um mesmo objeto, sendo estas muitas vezes conflitantes. No entanto, é incorreto acreditar na infinidade de interpretações do mesmo. Esta crença só pode ser sustentada por motivação artificial e lógica ilusória.

madonna ao luar em plutão

sexta-feira, 4 de junho de 2010

poeminha que morreu no meio...

(para bel)


pra menininha assim nem cantiga vale
que é um versinho pra quem tem um sorriso torto?
que com “vale” ou “torto”, a rima é tão pouco...
se fosse preciso, pra botar num poema
(é uma pena que ainda não tenham inventado)
misturar flor, gávea
e escola parque num mesmo barco
há tanto tempo, e tão pequena
que nem no poema cabe...

passeio ao volante

o ritmo na cidade segue intenso
incessante a 3000 rotações por minuto;
abre a janela, faz calor
e perder um segundo que seja
dessa nossa viagem, será a morte
ou o remorso, apenas

a pena pela vida na cidade
é a solidão de quem não tem um puto
de amor dinheiro amigos
e perder um segundo que seja
dessa irracional viagem, será a sorte
ou um poste apenas

a cidade segue o ritmo incessante
da avenida que brilha
a 3000 emoções por minuto;
perfila
socialites bagos velhos e crackudos
numa mesma pedida
farinha do mesmo saco

e quem pela cidade arrisca
um pisar leve, um devaneio
encoberto por alguma penumbra
- de que importa o coração alheio?
é melhor olhar pros dois lados
antes de atravessar a rua

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Elogio da mulher

(sobre música "Mulher" de Neguinho da Beija-Flor)


a música é boa
a música é boa
a música é boa
a música é boa
a música é boa

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Elogio da mulher

(sobre música "Mulher" de Neguinho da Beija-Flor)

Compor uma canção é um estratagema, dizia um músico. Eu não faço a menor idéia. Mas também não nego se tratar duma idéia interessante; se não pra ajudar a entender a composição, pelo menos um devaneio interessante, um ponto de vista.

Neste sentido a música “Mulher”, do sambista Neguinho da Beija-Flor, nos aparece como um exemplo cristalino de enlace perfeito entre as partes que a compõem. Pode-se até supor que o compositor guarda um “mapa” da obra, num rascunho o “esquema” da canção.

A repetição da palavra ‘mulher’, primeiramente, em três combinações diferentes, o tempo que varia, e a melodia que não é de pouca qualidade, introduzem o ouvinte no, digamos, todo da música. O terceiro tempo quebra dando início ao segundo momento da abertura, e o que nos aguarda:

“Melhor que uma mulher só dez “mulher”, só dez “mulher”

Melhor que dez “mulher” só mil “mulher”, só mil “mulher””

Pois é, até o momento não muito foi dito. Uma repetição trivial seguida de uma comparação que parece no mínimo imbecil (“duas mulher” não são melhores do que uma, ou três, ou nove? E mil mulheres tranqüilo, mil e uma é que fode, né?): O que um estrategista nos diria?

Não quero saber de imaginação pela metade. Um antigo general do exército chinês certa vez proverbiou: conhece o teu inimigo. A insinuação é sutil. O tema já está claro a esta pouca altura da música; vamos falar de mulher. Melhor que uma mulher, só dez “mulher”. Não dez mulheres, dez “mulher”. A individualidade da mulher é apreciada, não importa que seja uma, dez, ou mil; como a nos contar que cada qual vale por si mesma. Mas ele, autor, faz isso por artifícios.

A terceira parte não difere no que tange a simplicidade das estruturas. Uma contagem,

“Uma mulher, duas mulher, tr... ... sete mulher oito mulher nove mulher – dez mulher”

Agora tem fim o primeiro ato, em sua tripartição narrativa, apesar da abordagem incomum do tema. O segundo ato se inicia como o primeiro (“mulher, mulher...”), numa autofagia incrível, onde a música repete a si mesma, onde o mecanismo da repetição enquanto criador de significados foi explorado o quanto possível pelo compositor. A repetição se repetir, é um golpe de mestre!

“Ah, mas assim é muito fácil, só ficar repetindo mulher, então”. Vejamos; o quão explícita é a repetição, quão explícitas são as estruturas pelas quais se movem? Até porque, não esqueçamos que estamos falando de um samba, não uma daquelas repetições malucas e modernas (ou pós-?). Um samba, uma expressão musical que tem ampla divulgação no país. Não está isolada a obra. Um samba harmonioso é o encarregado de dar suporte à letra que se mostra simples, mas reveladora. Não bastou repetir a palavra ‘mulher’ para se falar tão sintetica e profundamente no tema mulher. Ousaria dizer que os dois êxitos da música se confundem (se não são o mesmo).

E o que há por dizer sobre elas?, como dizer no breve espaço de uma obra (qualquer que seja), como reduzir a mulher a tão pouco? O autor joga a bandeira, mas é uma desistência tão mais carregada de significado que muita resistência que poderia opor. Talvez sabendo, simplesmente, que não encerraria as mulheres a o que quer que fosse. Revela, por fim, a música, algo que não se trata de linguagem, não se trata de arte, nem arte contemporânea. Não se trata nem mesmo de mulher. Trata-se de mulheres, trata-se de homens, trata-se de suas vidas e de como eles encaram este imenso

segunda-feira, 31 de maio de 2010

voz

longe da minha
mas esta que
nunca deixou
de ser
a minha
nao posso falar
por outra
onde está,
?
.
.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Manifesto em defesa dos gladiadores

1. O animal homem, se não se pode dizer que é violento, diremos que tem sido ao longo de sua história.

2. Quando não estavam intimamente vinculadas às instituições oficiais, mesmo quando proibidas, as manifestações de violência nunca perderam seu papel ritual.

3. Mesmo o abalo causado na moral cristã pela revolução científica e social deflagrada a partir do renascimento, mais a reforma protestante, nada pelo visto interrompeu essa metafisicisação da vida cotidiana que, quem diria, contaminou até o nosso cego materialismo.

4. A nova bíblia que é a Carta dos Direitos do Homem, das Organizações das Nações Unidas, desvirtuou-se confundindo fins e meios, e, principalmente, perdeu a coragem em si mesma, a confiança.

5. Não é preciso instituir a mentira. Nada calará o instinto criador humano.

6. Let it flow.

7. Se é sabido que a questão da violência é cobertor curto, puxa aqui, descobre ali...

8. Não seria mais conveniente (não nos enganemos), reduzir os danos, tirar benefícios práticos - entretenimento, válvula de escape... - ao invés de suportar o fardo moral?

9. A intenção não é a mesma quando no faustão, aos domingos, aqueles anônimos se humilham cumprindo percursos toscamente obstruídos?

10. Vide o prestígio do Jackass pelo mundo.

11. Casos como de Auschwitz acima de tudo devem ser evitados.

12. Aceitar a violência não é negar a paz. Não é negar a vida.

13. É aceitá-la mais ainda.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Antropologia poética

Apenas no contexto do poema estrutural tem sentido o verso estrutural apenas no contexto do poema estrutural tem sentido o verso estrutural apenas no contexto do poema estrutural tem sentido o verso estrutural apenas no contexto do poema estrutural tem sentido o verso estrutural apenas

sábado, 15 de maio de 2010

Poema de madrugada

Os versos da noite, de insone contemplação,
conversejam com esses cânticos,
que passarinhos em sonolência alvoroçada
gorjeiam à em breve manhã;

(ambos sob o escuro céu que reluta em despedir-se das estrelas,
imanados em gravidade)

em seu íntimo transe, os grilos
- bons companheiros de noitadas -
apenas cri-criem.

Ora, quiçá o sossego tanto das noites enfim
seja somente o avesso em devoção:
sonhos - pra lá foram enlevados todos,
por lá que ora vagueiam ao longe;

(alto, o céu boceja delongadamente do escuro que se abre
à claridade inda preguiçosa)

e a quietude é tanta, ingênua,
que deve surpreender-se
com toda a manhã que sucede.

terça-feira, 11 de maio de 2010

explorando...

domingo, 2 de maio de 2010

teco peteleco

sábado, 1 de maio de 2010

junkie numa festa com estúdio

toco

observo,
absorvo

absinto,

teco

sexta-feira, 30 de abril de 2010

é muito gostoso olhar o seu próprio quarto através de um espelho.
podiam vender óculos que espelhassem a nossa visão, assim provaríamos mais o incomum do comum. mas na falta desses óculos ainda temos os milenares psicotrópicos.

as vezes acho que quando rimos é pq provamos desse incomum do comum.

poderíamos então em vez de usar os óculos espelhados, tomarmos poções do incomum do comum.

mas pq essa necessidade de materializar esse sentimento, em um objeto, em uma imagem?

O metro rio agradece

tim, tom...
- next stop, catete station
uma senhora não tira por nada os olhos
do jornalzinho gratuito, um homem
pena pra levar o dia
na barriga
já o barrigudo
e suas pelancas, não vê que está incomodando aquela mocinha tão bonitinha
inda mais
essa carinha de nojo...
bem podia ser eu no lugar do gordo
se ele levanta eu sento!
mas... não há tempo
é preciso estar atento
ao vão entre o trem o a plataforma
- mind the gap.

terça-feira, 27 de abril de 2010

eu amo seus cacoetes, encharcados de estrume dando cambalhotas

segunda-feira, 26 de abril de 2010

con( )ciência ou não, há vida em plutão

domingo, 25 de abril de 2010

Trilhos

Pare
Olhe
Escute

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Humanos

Aquele que sempre sorri
É feliz ou infeliz?
Ou esconde com gentileza
A sua secreta tristeza?

Aquele cujo coração morre lentamente
Enquanto vive, é infeliz?
Vive sem emoções, estas seladas,
Mas ainda as tem, trancadas.

Aqueles que fazem promessas,
Caminham juntos, cada um em sua rota
Apostam nessas idéias,
Se apaixonam; felizes?

Aquele que luta contra o passado
Vive uma ilusão ainda mais forte,
É infeliz. Problemas passados diferem de sonhos?
É feliz.

Aqueles que no longo e contínuo caminho do tempo
Nascem, riem, choram, lutam, sofrem;
Festejam, lamentam, odeiam, amam
Mudam. São transitórios.

Aquele que dramatiza
Ou decora fatos com rosas
Falsas ou verdadeiras
O que são?

As mentes que, como os tempos, estão confusas
Que rumo tem?
Perdidas e infelizes. Em um mundo feito para elas,
Se encaixam perfeitamente: felizes.

Os que escolhem suas vidas
E vivem como são
Felizes,
E dispensados pelos céus.

Os que tem a íris sempre úmida
E pensamentos induzidos por tragédias
Ou comédias. Não se surpreendem
Não se arriscam; infelizes. Infelizes?

Os que acreditam em uma única verdade
Fadados a limitados sentimentos
Não tiveram dúvidas, nem se arrependem
Infelizes felizes.

Os que compartilham a dor e o desaparecer
Aceitam e sentem a força
E a determinação do mundo
Que não precisa deles.

Eu sei que eles sabem,
Só talento não basta para sorrir
As flores são belas quando nascem
Mas também quando caem.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Até onde vai o necessário?

entre Homens e Deuses,
sob o céu e sobre a terra,
além do bem e do mal,
sem fé e sem ciência.
as ovelhas pastam.
todos os dias.
no passado e no futuro.

o homem; vai pastar no futuro?
tem futuro?

sábado, 27 de março de 2010

O poeta como vigário

o poema disfarça
        na sutil fragilidade dos versos
a culpa desistida
        a morte assistida nos braços do vento;
o poeta verdadeiro
        (feliz ou infeliz destino?)
vê morrer na praia
        seu último intento:
                sua poesia mesma.

por ela ele reza seus versos.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Menina

Essas pequenas coisas...
Todas congeladas no tempo.
Mais parecem romance de quinta
do que memórias de vida,
e mesmo assim estão lá.
Meio enevoadas, esquecidas,
mas presentes.
Feito pinguim de geladeira.

Se são verdadeiras ignoro.
Mas que importa?
Apenas sei que descendo uma escada,
Os cabelos compridos na cara,
meu olhar encontrou o dela.
Um recreio escolar, veja você.

Ali não poderia afirmar nada.
Mesmo hoje não posso!
Mas aquele olhar,
aquela escada,
aquela menina,
isso ficou.
Essas pequenas coisas...

Confesso que não me lembro
de nossas primeiras conversas,
de nossas investidas dispersas,
dos sims, dos nãos, dos ais...
Peças da memória.
Mas já aquele primeiro olhar,
magnetismo animal,
além do bem ou do mal,
Puro.
Ele ficou.

Há mais pinguins na geladeira dessa história.
Um beijo aguardado e apressado,
um gemido encostado num carro,
um terraço e um baseado.

As maneiras todas que nos amamos
nos desejamos
nos consolamos do cinza da vida,
essa ferida, e finalmente
do cigarro pós-coito
dos sentidos relaxados
e daquele velho olhar renovado.

Essas pequenas coisas...



Procissão

[exercício]


A gente caminhava com vagar rua acima, velas em punho, a canção a embalar os passos, como se nem movimento houvesse. Não se moviam, em verdade: era a rua que os atravessava, consumindo a chama e o tempo de cada um. Algo como um balançar de navio, no ritmo que os pés descalços marcavam na poeira. No mais era a noite que se anunciava por detrás das colinas.
[Narrativa acompanhando]

Viam-se apenas fagulhas, velas em combustão cortando a tarde. A noite logo viria, e com ela as estrelas, como a tomar parte na procissão. Cada pessoa era uma estrela. Cada estrela, uma pessoa. Assim, ambas as marchas seguiam seus cursos: saberiam da existência uma da outra? A coincidência era tanta...
[Narrativa panorâmica]

À frente da procissão senhoras vestiam luto. Sobreviventes, como a própria marcha que compunham. Velas empenhadas em suas orações, os passos lentos, mas tão rápidos quanto lhes permitia a idade. A poeira levantada insinuava, apenas, o que de misterioso havia. Homens, mulheres, crianças vinham em seguida; capaz que todos compartilhassem da mesma incompreensão, por mais que a solidão frustrasse no gérmen qualquer tentativa de encontro. A noite banhava de melancolia igualmente a todos quando a procissão passou.
[Narrativa estática]

Senhoras trajavam preto, dos pés à cabeça. Às velas que empunhavam cabia iluminar o que o sol lentamente se recusava a fazê-lo. Meninos, mulheres, homens. No tempo da procissão, quase tudo pouco valia. Quase nada. Uma chama a percorrer um fio: uma vela, uma marcha, uma vida? Quase tudo. Já noite, o andar assumia o tom da noite. E o canto que ritmava os passos e enchia de poeira a rua perdia-se num céu tão estrelado, a vibrar, vibrar, vibrar...
[Narrativa em flashes]

Na pequena estrada de terra que separava em dois o capinzal tomava forma a procissão. Senhoras de tristes feições abriam caminho, seguidas pelos demais. Muitos empunhavam velas, que com o encaminhar da marcha se faziam mais e mais visíveis sob o céu negro e estrelado do campo. As canções, ora melodiosas, ora recitadas, marcavam o ritmo a ser seguido. Os pés no chão levantavam a poeira na qual estavam envoltos: visibilidade dando lugar ao mistério crescente.
[Descrição objetiva]

Que havia de diferente, não se poderia dizer. Mas nenhum dos presentes negava àquela procissão o seu devido respeito de coisa incompreendida. Talvez o sol poente, as primeiras estrelas do céu. Que fossem as canções que as mais senhoras puxavam do fundo das já tão surradas gargantas... Seja talvez esta a pista: o respeito, o grave e silencioso respeito que toda gente prestava, um encontro de alma e mundo. O entendimento dispensando razões.
[Descrição subjetiva]

O sol se punha preguiçosamente. Iluminara e aquecera todo um dia, mais que seu direito o repouso que a noite traz. Não aquela gente, marchando em procissão, vagarosa, pé ante pé, ao som dos cantos que as mais senhorinhas empenhavam. Eram palavras doces e ríspidas, envolventes como um riacho, caudalosas qual torrente. O rio dos homens seguia seu fluxo, em meio à noite e à escuridão. Em breve as velas se apagariam. Restar-lhes-ia apenas o escuro, e cada um a si mesmo.
[Descrição mais subjetiva]

Prostituição Infantil

necessidade
cidade
idade

Poema encontrado no ônibus - ou Market Place

Salsa, cebolinha
        3 cenouras
           1 farinha
2 kilos
         ou 2 e 1/2 ?
2 de arroz branco
1 brócolis
1 feijão branco

alho
1 pimentão
1 pimentão e
2 cebolas

- azeitona preta

bacon
             ( p/ Sofia)
1 tablete
       de margarina

       e sobremesa:
- gelatina colorida.

terça-feira, 23 de março de 2010

Fragmentos de Aldeia

pés calejados e a barriga coça
mosquito!
é tinta, é pinta, é roça
(as montanhas engolem o sol sem dó nem piedade)
mas o dia não gira
dança, o dia, na roça
ou o balanço da rede engana meus olhos?
e quando cai a noite
estrelinhas mil
erguem dos ombros da terra
um firmamento, e nele
um rio
silencioso corre
- os seixos cadentes são espetáculo à parte

terça-feira, 2 de março de 2010

Desimportâncias Essenciais

Besouro rola-bosta,
mesa posta,
mananciais.
vagalume andarilho - pequeno fogo-fátuo
pedras sussurrantes
promessa de amor descumprida.
momentos a que pertenço.

E bradam os sábios:
bastam cem anos,
cem anos!
para que se vejam
impérios surgirem e ruírem,
para ser excomungado
ou extraditado,
para criar fortuna, desafetos ou gado.
Bastam cem anos
para colher lágrimas de tordo,
cem anos pra capturar um leprechaun
ou conquistar uma ninfa.

Mas e eu,
pequeno que sou,
ínfimo,
tímido,
sem 12 trabalhos pra realizar
ou países pra conquistar
ou cem anos pra viver...
que faço de mim?

Minhas desimportantes desventuras carecem de glamour.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

...

Volta e meia
me escapam fadas
da algibeira

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Siga, pare ou volte

Quando eu crescer
não terei pressa
ou preferência
entre começo, meio e o fim.

Quando eu amadurecer
não pensarei
nem para trás nem para frente,
nem no presente.

Enquanto eu viver
nesse esqueleto,
haverá paciência para
errar repetidamente.

Quando eu morrer
já terei minha resposta
para a vida na terra
e a morte nesse lar.

Quando eu nascer
verei a luz do sol
os campos verdes e
o azul do céu.
Quando eu nascer.

A vida é um momento
um, e só um
um em dez milhões de anos-
luz.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

C'est la vie

Ela se foi da minha vida
da mesma forma que entrou.
Feito uma puta.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Dia de chuva

Dia de chuva,
meu coração
escorre do peito
e fica a boiar
entre lixo e memórias,
cinzas e ais,
ratos,
lágrimas,
leprosos e
uma menina inocente e bonita;
aquela puta.

- Merda. - reclama a digníssima senhorinha enquanto abre um guarda-chuva ao meu lado, insensível a toda a poesia do mundo.
- Chuva de novo, nessa merda de domingo. - murmura ela, meio que para si; meio que para mim; meio que para o mundo. E se vai, sem perceber meu olhar nas suas costas.

Sorrio,
Recolho meu coração ainda sujo de bosta,
acendo um cigarro.
- Aquela puta... - murmuro num meio sorriso.
E me esvaio
em fumaça e água,
ferimentos e emoções.
Liberto do sofrimento
e aberto
a toda poesia
desse mundo condenado a tragédia.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Pássaros de vôo longo

(para as irmãs Falcão)


Nas tarde em que eu passeava os olhos
na janela abafada do meu pai
rasgavam o azul do céu
dois pássaros
de vôo longo

(uma Clarice outra Isabel)

dois pássaros
voando longe
tão longe
que um polegar facilmente encobriria.

Vendo tão distante a cena
eu, pássaro de vôo curto
que mal me afasto da copa das árvores
e me contento com frutinhas e insetos;
eu, que nem direito sei bater as asas
como acompanhar os razantes?

e inda mais, cartas na mesa
como fazer
pra não ser eu a presa

Sobre nada

Nada surge do nada.

Nada surge "do nada".

"Nada" surge do nada.

"Nada" surge "do nada".

"Nada surge do nada."