terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O escuro com o encontro

"Essa aceitação de um infinito inexplicável mata a subjetividade de tudo..."


Os quatro despertaram quase simultaneamente. Nada se via, nada nada, e isso assustava aos quatro. Era úmido, o frio, e abafado, o local. O medo preenchia a vasta escuridão. Por não compreenderem ao certo o que se passava, permaneceram calados. Um ruído, muito provavelmente o som do silêncio, parecia mantê-los grudados ao chão. Todos recolhidos em si mesmos, pouco tentavam ante a escuridão
O primeiro a pôr-se sobre as pernas hesitava então. Mas deu o arriscado passo. Viu que era bom, e espalhou a notícia aos outros, cuja presença acabara de atestar. A respiração uns dos outros era a única coisa capaz de romper o silêncio, e quando dialogaram pela primeira vez, foi um alívio.
Perguntaram-se o que fariam, e, assustados, calaram ante o desconhecido uma vez mais. Foi o primeiro vulto erguer a voz em tom de surpresa:
- Eu encontrei uma caixa de fósforos no bolso!
Era o que precisavam! Apressadamente ele tirou do bolso a caixinha, e constatou, em desalento: apenas sete palitos.
Acendeu o primeiro, rapidamente, e pode ver o rosto da moça ao seu lado. Parecia bela. Olhos bonitos, ela tinha... Quando ia enfim contemplar seu rosto na totalidade, o fósforo se apagou.
A fria realidade voltara. Apressadamente acendeu outro fósforo, desta vez podendo ver apenas em parte aquele rosto, ao seu lado, que o intrigava.
Foi comentar a terceira pessoa que lá se encontrava:
- Procuremos alguma saída. Você não vá gastar todos os fósforos de uma vez!
Concordou com ele, apesar de não tê-lo agradado o tom de autoridade que utilizara. Os dois rapazes puseram-se, então a tatear, buscando algo que os indicasse como sair dali. Ao perceber o afastamento deles, a moça, entre eles, temeu, e ajoelhou-se. Chorava copiosamente. Rezava pedindo ajuda e proteção, mas seu choro, como sua reza, trouxe-lhes apenas impaciência dos outros dois. Ela, recusava-se a colaborar.

O quinto fósforo terminara há pouco a sua combustão.
O quarto sujeito, que até então não se pronunciara, por fim, põe-se de pé e arrisca alguns passos. Enquanto os outros dois circundavam a escuridão, e cada vez mais se distanciavam e distorciam o quanto já houvessem descoberto, o espaço parecia aumentar a cada momento. Parecia estender-se para além de onde se podia chegar. O entorno de cada um dos quatro estava à mesma distância de qualquer saída possível. E tal consternação, a angústia de sentirem-se sós, num, impelia-o mais e mais a explorá-la, a compreendê-la. Ao outro, provocava-lhe um estranho desconforto, que a sua maneira buscava enfrentar, ou defender-se.
Ajoelhada, a bela moça era consolada pelos dois rapazes, cujas vozes se distanciavam cada vez mais. Todo esforço, porém, era vão. Suas lágrimas não pareciam bastar. O sexto fósforo ardia ao longe.
Vendo o choro incessante da dama, o quarto sujeito, e o mais calado entre eles, se aproxima. Perdida em suas salgadas preces que escorriam os olhos, ela mal percebe sua presença. Porém, quando se acende, distante, o sétimo e último fósforo, ela o vê, diante de si. Estende a ela o braço, como a convidar para algo que não sabia ao certo. Por que desconhecido motivo, ela se levantou e pegou em sua mão. Ele a puxa para perto, seu tórax contra o dela, ela o sente respirar. Quando vê, estão a bailar, ao som de uma belíssima valsa imaginária. O silêncio tornara-se em música, que a seu critério os embalava por aquela escuridão imensa.
O último fósforo, por fim, se apaga. E eles novamente estão perdidos, sozinhos; a dançar.

5 comentários:

taperjeangirl disse...

bonito, sani.

A. disse...

o final me faz sorrir ! muito

lurry dobb disse...

irado isso ai hein... bonitao

Jack Staobeck disse...

imagens muito bonitas, gosto do final e principalmente dessa sequencia angustiante que os fósforos acabando vao dando ao texto, mas acho que isso podia ter sido aproveitado mais incisivamente, até mais cruelmente patas.
mas no geral, um bom texto.

Judy disse...

acho que os fósforos estão no ponto certo, a meu ver..
me irrita e incomoda demais quando uma angústia é levada ao extremo. acho desnecessariamente desconfortável.