quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Primeiro contato com gnomos

Se eu fecho o olho
o instante que seja,
sobe a fumaça,
um vulto passa.
Medo, é escuro, é sombra
é coisa que não devia
(então como pode?)
acontecer...
Um gnomo, e nada menos
que um gnomo eu vejo;
se não existe, o bicho,
por que eu o vejo?
Não há porque.
Não há
senão
gnomo.
É só o que meus olhos podem ver.
E ele me mira, os olhos profundos
tocam minha alma
e ela também
entristeceu
(O tic-tac do relógio, distorcido,
corre, pára, corre,
nem ao menos sabe
para onde vamos).

O gnomo, o gnomo é simples
seu aspecto verde
verde ideal,
platônico;
o gnomo é simples
grave e sóbrio
sóbrio como terra
como terno
paletó.
O gnomo permanece
qual soldado,
imóvel.
Gnomo, enquanto respiro
respira
e se pisco, pisca ele
ambos calados
qual bicho no mato.

Mirávamos um ao outro
fixamente,
e o medo que é meu
indiferente é ao gnomo;
– sombra, sombra, sombra,
tão longe o interruptor!
O quarto nunca pareceu tão amplo
e vasto
de medos.
Cada livro acompanhava
ansiosamente
o desfecho.
Que haveria de acontecer?
e mesmo eu
não previa
desfecho possível...

Morderia-me, a criatura,
ou temeria
a minha presença?
Pensa, aquilo?

Um instante
foi preciso,
distraí-me, um pisco
e eis que some
o gnomo
some

O gnomo
some

O.

Nenhum comentário: